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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Um jornal inteligente e rebelde


Livro resgata a história do semanário “Movimento”, um dos mais censurados do país e que foi importante na luta contra a ditadura civil-militar

Renato Dias
Especial para o Jornal Opção

Por que os nazistas não merecem anistia? Essa era a manchete da edição nº 154 do semanário “Movi¬mento”. Em campanha por anistia ampla, geral e irrestrita, o jornal defendia a apuração das violações dos direitos humanos ocorridas à época da ditadura civil-militar e a punição dos responsáveis por prisões ilegais, torturas, assassinatos e desaparecimentos políticos. Nada mais atual em tempos de criação da Comissão da Verdade.

O “Movimento” nasceu de uma costela do “Opinião”, o jornal criado em 1972 pelo empresário Fer¬nando Gasparian, amigo de Rubens Paiva, ex-deputado federal morto pela repressão política em 1971. Editado por Raimundo Rodrigues Pereira, chegou às bancas, pela primeira vez, em 7 de julho de 1975. Para ser o jornal dos jornalistas e um veículo de frente política ampla para derrotar a caserna e ajudar a construir a democracia.

A história do surgimento e da morte do veículo é registrada em “Jornal Movimento — Uma reportagem”, Manifesto Editora, de autoria de Carlos Azevedo, com reportagens das jornalistas Marina Amaral e Natalia Viana. Detalhe: um DVD acompanha o livro com as 334 edições digitalizadas do jornal. A obra, que foi patrocinada com recursos da Petrobrás para a sua produção, possui 336 páginas. Fotografias inéditas ilustram os textos.

O “Movimento” vendeu 21 mil exemplares na primeira edição. Ele possuía um programa — de oposição ao regime militar, um jornal popular, democrático, em defesa das liberdades, pela melhoria da qualidade de vida da população, contra a exploração do país por capitais estrangeiros, pela divulgação da cultura popular e para defender os recursos naturais da pátria de chuteiras. O programa teve formulação atribuída ao jornalista Marcos Gomes.

A sede do semanário era em São Paulo, à Rua Virgílio de Carvalho Pinto, 625, Pinheiros, área central da capital. Sociólogo, Chico de Oliveira indicou o “cara” que iria organizar a empresa: Sérgio “Gordo”. Na verdade, Sérgio Motta, que tempos depois seria definido como o trator do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Ele mantinha uma estrutura razoável em sua empresa, a Hidrobrasileira.

O quadro dos colaboradores do jornal era plural, eclético. Além de Chico Buarque no Conselho Editorial, Fernando Pimentel e João Batista dos Mares Guia atuavam na sucursal de Belo Horizonte; Paulo Timm e Antonio Ibanez em Brasília; Emiliano José, Tibério Canuto e Oldack Miranda, em Salvador. Ivan Maurício, Recife. Fátima Murad, Curitiba. Carlos Moissman, Porto Alegre. Santa Maria, os irmãos Adelmo e Tarso Genro.

O jornal era impresso em preto e branco. “Apenas uma corzinha na capa”. Mas uma nova geração de ilustradores e cartunistas surgiu com o projeto: os irmãos Chico e Paulo Caruso, Cássio Loredano, Grilo, Alcy, Luiz Gê, João Zero, Arnaldo, Nilson, Laerte, Joata, Angeli, Glauco. Levados ao veículo com a bênção de Elifas Andreato, que assinava o projeto gráfico do semanário.


Uma guerra constante do semanário “Movimento” era contra a censura. Não custa lembrar: a edição nº 2 teve 14 matérias vetadas, 12 parcialmente cortadas, num total de 72 laudas. Ilustrações não puderam ser publicadas. A capa foi mutilada. Até 8 de junho de 1978, haviam sido vetados pela censura prévia 3.093 artigos na íntegra, 450 mil linhas de textos parcialmente cortados, 3.162 desenhos. Mais de 4,5 milhões de palavras foram vetadas: “Cerca de 40% do conteúdo produzido para as edições semanais do jornal”, relatam Carlos Azevedo, Marina Amaral e Natália Viana. A censura ao “Movimento”, “O São Paulo”, jornal da cúria metropolitana de São Paulo, dirigido por dom Paulo Evaristo Arns, e “Tribuna da Imprensa”, do Rio de Janeiro, comandado por Hélio Fernandes, terminou apenas no mês de junho de 1978.


O “Movimento” sempre operou no vermelho. Com a censura em alta, as vendas entravam em baixa. Era a equação do mercado leitor. O semanário acabou sustentado por acionistas e colaboradores. A democracia interna constituía o diferencial de funcionamento do veículo. Além de garantir a propriedade da empresa “de fato e de direito” aos que nela trabalhavam, a redação mantinha o poder de decisão sobre os seus rumos.

1977: após denunciar o suposto controle editorial oculto de Ensaios Populares, uma seção do jornal, pelo PC do B — na verdade, os textos eram escritos por Duarte Pereira —, e de exigir um jornal operário e socialista, e não de frente, Bernardo Kucinski e a sucursal de Belo Horizonte racham com Raimundo Pereira e fundam o “Em Tempo”, que depois viria a ser o porta-voz da DS, a facção trotskysta Democracia Socialista, ligada a Ernest Mandel.

“Em Tempo” começou ir às bancas em janeiro de 1978. Com Bernardo Kucinski, Chico de Oliveira, Maria Rita Khel, Guido Mantega, Flávio Andrade, Emiliano José, Oldack Miranda. Logo novo racha: Chico de Oliveira e Ricardo Maranhão saem de “Em Tempo” e criam outro jornal — “Amanhã” — que não conseguiu consolidar-se. O racha no “Movimento” ocorre em abril, quando Ernesto Geisel havia lançado o “Pacote de Abril”.

O “Movimento” fazia campanhas. A primeira, por uma Assembleia Nacional Constituinte. Ele demorou a desfraldar a bandeira da anistia. Mas, aos poucos, a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita foi ganhando as páginas do semanário. A edição nº 155 trouxe, como manchete na capa, “Retrato de um torturador: capitão Ubirajara.” Outra reportagem bombástica: como morreu José Porfírio (deputado goiano), líder das revoltas camponesas de Trombas e Formoso.

Orientado por Raimundo Pereira, o “Movimento” apoiou os dissidentes do regime militar: Euler Bentes e cia. Na votação do Colégio Eleitoral — sucessão de Ernesto Geisel —, em 15 de outubro de 1978, João Batista Figueiredo venceu com folga: obteve 355 votos, contra 226 dados ao general Euler Bentes. Já no mês de novembro seguinte, o MDB elege 189 deputados federais. A Arena (Aliança Renovadora Nacional), 231.

O semanário acabou surpreendido pelas greves operárias de 1978 e 1979, viu com desconfiança o surgimento do líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. “Havia muita especulação a respeito de quem era esse cara chamado Lula. Tanto do ponto de vista da direita como da esquerda. Que o Lula era da CIA, que o Lula fez treinamento nos Estados Unidos, que Lula isso... porque o Lula era um enigma (...)”.

“Em 1980, um novo obstáculo surgiu para dificultar o esforço de recuperação (econômica) de ‘Movimento’. Bancas de jornais estavam sendo incendiadas ou ameaçadas. Atentados ocorreram em São Paulo, Londrina, Rio de Janeiro, Goiânia e Salvador.” O “Movimento” dava os suspiros finais. A última edição nº 334 circulou em 23 de novembro de 1981. Com o editorial “Movimento morreu. Viva Movimento!”.

Renato Dias, jornalista, é colaborador do Jornal Opção.

Jornal "O Pasquim"


Fonte: Caminhos do Jornalismo

O jornal Pasquim foi um semanário brasileiro que nasceu no dia 26 de junho de 1969, na cidade do Rio de Janeiro. A ideia da criação de um jornal nasceu no fim de 1968, em uma reunião entre Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe (Jaguar) e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral.
O jornal foi criado para ser apenas um semanário de bairro da cidade do Rio de Janeiro. Mas após atingir sucessivas marcas de 40 mil exemplares, o jornal passou a circular nas principais cidades brasileiras, se mantendo assim por 22 anos.

O nome Pasquim tem o significado de "jornal difamador, folheto injurioso", o nome foi sugerido por Jaguar. O jornal contou com a participação de grandes figuras da impressa brasileira, entre eles: Ziraldo, Millôr, Prósperi, Claudius e Fortuna.


O mascote do Pasquim era um ratinho, desenhado pelo próprio Jaguar, chamado Sig, de Sigmund Freud, por causa da frase "Se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem". 


Com o decorrer dos anos o Pasquim se mostrou um jornal revolucionário. Em suas publicações o posicionamento contra o conformismo, o conservadorismo e principalmente contra o período ditatorial enfrentando na época era facilmente perceptível.

Ouve um episódio em novembro de 1970, que após uma publicação de uma sátira do quadro de Dom Pedro II às margens do rio Ipiranga, a redação inteira do O Pasquim foi presa. A esperança dos militares, era que os leitores do Pasquim, com o tempo, perdessem o interesse no semanário e ele saísse de circulação. Porém, no tempo em que a equipe da redação ficou presa, o jornal foi comandado por Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e diversos intelectuais.

Em setembro de 1972, O Pasquim foi vendido para Fernando Gasparian, porém, não resistiu à censura prévia imposta pela ditadura. Em março de 1975 essa censura foi retirada do Pasquim, mas os efeitos causados por essa nunca mais seriam recuperados. A sua última edição, de número 1.072, foi publicada em 11 de novembro de 1991.

domingo, 16 de junho de 2013

Gazeta de Minas o jornal mais antigo de Minas Gerais




O jornal GAZETA DE MINAS foi fundado no dia 4 de setembro de 1887, em Oliveira, pelo português Antônio Fernal, com periodicidade semanal até hoje mantida. Surgindo na última fase do Império com o nome de Gazeta de Oliveira, o jornal alcançou grande aceitação pública já em seus primeiros anos, circulando não somente na região de Oliveira, mas na Corte do Rio de Janeiro, para onde sempre se deslocava o seu fundador e primeiro proprietário. A rápida expansão e abrangência fez com que o proprietário mudasse o nome do periódico para Gazeta de Minas. A primeira edição com o novo nome circulou no dia 1.º de janeiro de 1899.

Sobre os primeiros anos de circulação do periódico, diz o livro "História de Oliveira", de Luis Gonzaga da Fonseca: "Jornal neutro e alheio às politiquices de aldeia - foi assim que a Gazeta surgiu. Era a folha de maiores dimensões de quantas havia e tinha havido em Minas, afirma Xavier da Veiga (Revista do Arquivo Público Mineiro, ano III, pág. 225). Realmente as tiragens de 1896 a 1917 lançavam números vastos, maiores do que o próprio Jornal do Comércio do Rio de Janeiro".

Nessa fase o jornal publica editoriais e artigos de renomados autores, muitos deles com exclusividade. Conta o livro História de Oliveira: "Entre os seus mais ilustres colaboradores figuram dr. Josefino Felício dos Santos, José do Patrocínio, Aldo Delfino, Abílio Barreto, Mendes de Oliveira, Belmiro Braga, Mário de Lima e o próprio Eça de Queiroz". O grande escritor português costumava enviar suas famosas crônicas internacionais ao redator e patrício Antônio Fernal. O jornal também reproduziu, em forma de capítulos semanais, parte da obra do grande escritor futurista Julio Verne.

Após ser propriedade de alguns políticos, o jornal é doado, em 1947, à diocese de Oliveira. Passa então a incluir, a partir daquele ano, uma ampla cobertura religiosa, de cunho católico. A Gazeta narra os fatos mais importantes que marcaram até hoje a história da diocese de Oliveira.
            
A partir de 1964 o jornal entra no período do regime militar, refletindo todos os problemas que esse tempo histórico trouxe para a imprensa brasileira. É aí que o noticiário se volta mais para os assuntos da cidade, forçado pelo desenvolvimento tecnológico, o advento da TV em cores, o início do processo de globalização da informação.

A atual fase teve início em 1987, com a passagem da empresa às mãos dos atuais proprietários. O jornal passa então por um rápido período de adaptação às normas técnicas do moderno jornalismo profissional, assumindo uma postura inteiramente independente frente aos poderes públicos e facções políticas. A Gazeta torna-se, então, rigorosamente noticiosa, inteiramente voltada para os fatos que envolvem a comunidade oliveirense. Está ainda calcada no jornalismo opinativo de qualidade, com editoriais e crônicas de colaboradores de reconhecida idoneidade moral e social.

A condição de jornal mais antigo do estado, aliado ao atual rigor técnico-profissional hoje implantado, já valeram à GAZETA DE MINAS o reconhecimento das organizações setoriais e entidade de classe. Assim é que, em 1998, a Associação Mineira de Imprensa (AMI) promoveu expressiva homenagem ao órgão, incluindo-o na galeria dos mais importantes do Estado de Minas. Naquela oportunidade foi afixada, na parede da galeria da AMI, placa em alumínio, em tamanho natural, reproduzindo a 1.ª página da edição n.º 38, de 20 de maio de 1888, em que está noticiada a assinatura da Lei Áurea.
            
Durante o ano de 2000, outras duas expressivas homenagens lhes foram prestadas. A primeira pelo sindicato dos Proprietários de Jornais do Interior de Minas Gerais (Sindijori) com oferecimento de placa durante o Congresso Mineiro de Jornais. A segunda pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com a medalha 500 anos de Brasil. Já em 2008 foi a vez da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) destacar o jornal, com placa especial, como a mais antiga publicação gráfica do estado, entregue durante cerimônia do Prêmio Cícero, maior evento anual desse setor industrial.

Os 123 anos de circulação fazem da Gazeta de Minas o jornal mais antigo do Estado de Minas Gerais e o oitavo mais antigo de todo o Brasil. Seu acervo, representado pelos originais de cada uma de suas milhares de edições, está guardado na sede do periódico, em Oliveira. São cerca de 35.000 páginas originais, que representam, com certeza, uma das mais importantes coleções históricas do jornalismo mineiro. Todo esse universo de informação história está disponibilizado pela internet, neste site, com acesso livre e irrestrito a todas as pessoas do mundo, num trabalho que envolveu o governo brasileiro e uma vasta equipe técnica.

É desta forma que procuramos cumprir nossa missão e ampliar nossa visão, na certeza de oferecer sempre um serviço de qualidade a todos os oliveirenses, mineiros e brasileiros, dentro do que postula a moderna ciência da comunicação.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O jornal “Binômio”

Fonte: Mídia Alternativa e Net Wise
Primeira edição do Jornal Binômio

A primeira edição do jornal Binômio foi para as bancas no dia 17 de fevereiro de 1952, na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. Idealizado pelos jornalistas José Maria Rabêlo e Euro Arantes, o jornal prometia balançar as estruturas da conservadora família mineira.
Com um toque de humor, o jornal era recheado de denúncias políticas, charges e crônicas. Tudo começou em uma conversa na redação do antigo Informador comercial, que hoje é chamado de Diário do Comércio, quando Rabêlo e Arantes, inconformados com a imprensa palaciana e oficialista de Minas Gerais, resolveram criar um jornal. 


José Maria Rabelo segurando as edições do jornal Binômio
Ambos jornalistas já tinham experiência em redações. Arantes havia trabalhado em jornais críticos da cidade de Ubá, interior de Minas Gerais. Já Rabêlo, na cidade de Alfenas, também interior de MG, participou de movimentos estudantis, teatro e fazia alguns trabalhos na imprensa.

A ideia do jornal era boa, mas os jornalistas estavam sem verba para executá-la. No entanto, o projeto ficou pouco tempo fora do papel, pois logo os jornalistas foram procurados por deputados da oposição com a mesma ideia. Desta forma, esses deputados entraram com o dinheiro, e Rabêlo e Arantes, com o trabalho de jornalistas. 


O nome do jornal foi escolhido quando decidiram que o então governador do estado Juscelino Kubitschek seria o primeiro alvo do jornal. JK tinha como lema de governo a frase “Binômio Energia e Transporte”, que era extremamente divulgada nos meios de comunicação. Desta forma, para contrapor e afrontar o governador, nomearam o jornal de “Binômio Sombra e Água Fresca”, que com o tempo, se tornaria apenas “Binômio”.




O Jornal Binômio virou fenômeno na pacata cidade de Belo Horizonte, e vendeu quase 60 mil exemplares. Passaram pela redação jovens jornalistas e chargistas no início de suas carreiras, entre eles Roberto Drummond e Ziraldo. O jornal estourou quando publicou uma matéria que tinha como título ”Juscelino foi a Araxá e levou Rolla”. A notícia era sobre uma viagem de JK a Araxá, em companhia de Joaquim Rolla. Porém, leitores do Binômio entenderam que a manchete punha em dúvida a masculinidade de JK.

Por sua coragem, a redação do Binômio acabou pagando um preço bem alto. O jornal publicou uma matéria intitulada “Democrata hoje, fascista ontem”, que fazia referência ao então comandante do exército de Minas Gerais, João Punaro Bley. A matéria revelava que Plunaro Bley tinha um lado obscuro e fascista em sua história. Após a repercussão da matéria, Plunaro Bley manda 200 homens cercearem a redação e destruírem a sede do Binômio. 

O Binômio resistiu por mais alguns meses. Porém, com o Golpe Militar em 1964, o jornal fecha sua portas por completo, depois de 12 anos de sua criação. E seu criador, juntamente sua esposa, foi obrigado a correr o mundo num exílio que duraria 16 anos.  









domingo, 5 de maio de 2013

Diário da Tarde 77 anos de História

Fonte: Imprensa Mineira





O Diário da Tarde foi um jornal de Belo Horizonte que pertenceu ao grupo Diários Associados. Ele circulou por 77 anos, até ser extinto no dia 30 de julho de 2007. O jornal foi substituído pelo tabloide Aqui.

Enquanto circulou, o DT, como era chamado, chegou a ser o jornal de melhor vendagem avulsa na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e o segundo em circulação, perdendo apenas para o Estado de Minas, editado pelo mesmo grupo.


O fim do Diário da Tarde, 77 anos depois

Os Diários e Emissoras Associados passam por mais uma derrota e quem perde são os leitores e os jornalistas. Circula na segunda-feira (30/73007) há última edição do jornal Diário da Tarde, de Belo Horizonte, após existência de 77 anos.

A decisão pelo fechamento do Diário da Tarde foi tomada após uma série de medidas e ações equivocadas da atual diretoria da SA Estado de Minas, empresa que controla os negócios dos Associados em Minas Gerais, entre eles os jornais Estado de Minas e Aqui, além do Diário da Tarde.

Idealizado e criado como um diário vespertino, o Diário da Tarde era um jornal de textos de leitura fácil, diagramação que privilegiava fotos e ilustrações – e foi, desde o seu lançamento, leitura diária obrigatória dos taxistas de Belo Horizonte e dos amantes do futebol.

Após a fase inicial em que era impresso e circulava no início da tarde, o DT, como era chamado por seus leitores, passou a rodar e circular pela manhã, atendendo à exigência da velocidade cada vez maior das informações. Elaborado por uma redação enxuta, coesa e harmônica, o DT ficou conhecido por seus textos leves e facilidade de leitura. O Diário da Tarde estava para o Estado de Minas assim como o Jornal da Tarde está para o Estado de S.Paulo, isto é, voltado para quem tem preferência por textos mais lights.

Queda nas vendas

Enquanto manteve essa "personalidade", o DT foi o primeiro em vendas em bancas na Grande Belo Horizonte. Seu melhor dia era segunda-feira, quando trazia uma edição mais completa, com destaque para a cobertura do futebol do fim de semana, além das notícias policiais e suplementos semanais.

Seu sucesso era tamanho que começou a incomodar o próprio Estado de Minas, a ponto de os gestores da empresa passarem a tratá-lo como concorrente ao "grande jornal dos mineiros". Essa postura equivocada representou o início do fim. Ao imaginar que travando o DT iria fazer crescer as vendas do Estado de Minas, a empresa tomou várias providência, entre elas a impossibilidade de se assinar o jornal. Isso só era permitido a pessoas jurídicas e, mesmo assim, se assinassem também o Estado de Minas.

Ainda assim a posição de líder de vendas em bancas foi mantida pelo DT até que, há pouco menos de dois anos, os "cérebros" dos Associados em Minas Gerais decidiram lançar o tablóide popular Aqui. No pacote de medidas, mudaram também a cara e o conteúdo do DT, enfatizando com mais radicalismo as notícias populares.

O lançamento do Aqui aconteceu, na verdade, para combater um jornal de mesmo estilo – o Super Notícias – lançado algumas semanas antes pela Sempre Editora, do ex-deputado Vittorio Medioli, e hoje o principal concorrente dos Associados de Minas Gerais no mercado da mídia impressa.

Ocorre que, enquanto o Super é um sucesso editorial inquestionável – chega a vender 200 mil exemplares por dia –, o Aqui está marcado pelo fracasso. Nem mesmo funcionou a atitude pouco elegante, para não dizer inescrupulosa, de "comprar" do dia para a noite toda equipe de redação do Super Notícias para produzir o Aqui.

Nessa guerra editorial, o Diário da Tarde mais uma vez levou, injustamente, a culpa. Foi reformulado à força e contra a vontade da equipe de Redação que o projetou, o produzia e editava. O resultado foi uma dupla derrota. O Aqui não decolou e o DT, afundou. Suas vendas caíram de forma estrondosa e agora encerra atividades com a demissão dos poucos e bravos jornalistas que faziam o jornal.

Limpando as gavetas

A esperança dos dirigentes da S.A. Estado de Minas é a de que, com o fim do Diário da Tarde, seus tradicionais leitores passem a comprar o Aqui, que agora será rebatizado de Aqui DT. Mas, pelos vários tiros no pé que as últimas decisões dos Associados em Minas têm representado, o mais provável é que os leitores optem pelo jornal concorrente, o Super Notícia.

Nas entrelinhas dessas atitudes, o que pesa é a difícil situação financeira por que passa a S.A. Estado de Minas. A relação custo/faturamento piora a cada dia. Os anunciantes são muitos, o apoio do governo estadual por meio de páginas e mais páginas de publicidade oficial é o que hoje sustenta a empresa, mas as despesas são absurdas. Seus principais executivos recebem salários de fazer inveja aos melhores do mercado e as despesas com a segurança, gastos com festas, jantares e dividendos para os condôminos dos Associados tendem a comprometer a saúde financeira da empresa editora.

Até mesmo os classificados, que por muito tempo foram o principal sustentáculo do grupo, andam mal das pernas. O jornal Balcão, especializado em pequenos anúncios gratuitos, tirou boa parte do faturamento do Estado de Minas nesse campo e, recentemente, o incansável Vittorio Medioli lançou em Belo Horizonte a versão mineira do jornal Primeira Mão, que faz concorrência ao Balcão, mas tem como alvo principal o jornal Estado de Minas.

O fim do DT, antes de ser uma derrota para o grupo criado por Assis Chateaubriand, é uma vitória para a Sempre Editora, sob a batuta do principal desafeto dos Associados hoje, o ex-deputado Medioli. Enquanto, triste, a redação do DT limpa 77 anos de gavetas, a equipe da Sempre Editora deve estar comemorando a vitória de mais uma batalha na guerra para desbancar os Associados em Minas Gerais.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

De Fato: a importância de um jornal independente no enfrentamento da censura em Minas Gerais na década de 1970




                                                                Os jornais independentes ou alternativos representam um importante capítulo da história da mídia impressa no Brasil. Muitos surgiram nos anos 60 e 70 em meio a repressão política e militar, contexto em que a maioria dos grandes jornais acabou por sucumbir ao regime, que contou com a simpatia e mesmo incentivo dos maiores veículos de comunicação para o golpe. A censura e a autocensura dos jornais tradicionais e a falta de canais democráticos de contestação ao Estado levou ao surgimento de cerca de 150 jornais de oposição radical no período em questão.


Sob determinadas perspectivas, os jornais independentes e alternativos representam o acervo da história do Brasil, considerando que os grandes jornais burocratizaram a cobertura política, se pautando nos limites impostos pela censura (ou ainda por interesses comuns aos do governo). Dentre as dezenas de jornais que surgiram naquele período,  destacou-se o jornal De Fato (DF), criado em 1976, em Belo Horizonte, permanecendo em circulção  por três anos.

Em Minas Gerais a repressão foi menos direta, quase sem censura aos jornais. A quantidade e a intensidade de atentados paramilitares foi consideravelmente inferior ao identificado em outros estados brasileiros, assim como a prática de tortura nas prisões, sem assassinatos como o do jornalista Vladimir Herzog pela polícia paulista, embora a articulação política e o levante militar do golpe tenha se dado em Minas Gerais por intermédio do general Olímpio Mourão Filho. Aqui a ação dos censores deu-se de maneira indireta, predominantemente com a propagação dos novos ideais através da grande mídia, das igrejas, do empresariado, de  associações de classe, de escolas, da cooptação de lideranças sindicais e dos governos locais, em alguma medida reproduzindo o ditado de que “mineiro não briga, articula”. 


Do mesmo modo, DF não se opunha frontalmente ao regime militar, criticando de maneira ácida ou direta como um jornal militante. Ao invés de denunciar a censura, defendia a liberdade de expressão, utilizava de vários recursos como a alusão a situações de outros países, a crítica a ditadores como Pinochet, Franco e Duvalier, além da publicação de notas de organismos internacionais defendendo a anistia no Brasil e liberdade para presos políticos, como a manifestação de exilados brasileiros em Estocolmo. Não há registros da presença contínua de censor em redações de jornais mineiros no período e assim DF era um dos únicos atuar forçando e ampliando os limites da liberdade de expressão no estado. Em  quase todas as entrevistas publicadas, mesmo as que tratavam de assuntos gerais, surgiam questões sobre o papel da grande mídia e da censura. E naqueles tempos a censura em Belo Horizonte foi se alastrando por todas as esferas sociais.

Após 3 anos de críticas intensas à política vigente, ao posicionamento da igreja católica, à violação dos direitos das mulheres, e até mesmo à grandes anunciantes dos jornais, como a Cemig,  mais precisamente em 02 de Setembro, o jornal foi alvo de um atentado terrorista, sendo a casa arrombada e alguns objetos roubados. Uma bomba foi instalada no espaço, mas a explosão não aconteceu.  Em função de dificuldades financeiras, somadas ao atentado, que pôde ser visto como a gota d’água,  a última edição saiu com atraso.

Nessa edição o DF promete que “em que pese a série de dificuldades que temos enfrentado, intimidações como esta não nos afastará da verdade dos fatos e continuaremos firmes no propósito de permanecermos na luta ao lado da oprimida maioria do povo brasileiro”. Mesmo com tal afirmativa, a edição parecia anunciar que seria a última. Apresentando apenas 16 páginas e repleta de santinhos de com propagandas políticas, a edição foi constituída basicamente de entrevistas com candidatos e com a publicação dos respectivos santinhos. Na contracapa encontrava-se um anúcio com a inscrição “Leia De Fato”, remetendo a um epitáfio. Foi a última página de um dos mais significativos periódicos a enfrentar a ditadura militar nos anos 70 em Belo Horizonte.

Referência Bibliográfica:
RABELO, Ernane. De Fato: o jornal que enfrentou a censura em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG. 2006.