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quinta-feira, 25 de abril de 2013

De Fato: a importância de um jornal independente no enfrentamento da censura em Minas Gerais na década de 1970




                                                                Os jornais independentes ou alternativos representam um importante capítulo da história da mídia impressa no Brasil. Muitos surgiram nos anos 60 e 70 em meio a repressão política e militar, contexto em que a maioria dos grandes jornais acabou por sucumbir ao regime, que contou com a simpatia e mesmo incentivo dos maiores veículos de comunicação para o golpe. A censura e a autocensura dos jornais tradicionais e a falta de canais democráticos de contestação ao Estado levou ao surgimento de cerca de 150 jornais de oposição radical no período em questão.


Sob determinadas perspectivas, os jornais independentes e alternativos representam o acervo da história do Brasil, considerando que os grandes jornais burocratizaram a cobertura política, se pautando nos limites impostos pela censura (ou ainda por interesses comuns aos do governo). Dentre as dezenas de jornais que surgiram naquele período,  destacou-se o jornal De Fato (DF), criado em 1976, em Belo Horizonte, permanecendo em circulção  por três anos.

Em Minas Gerais a repressão foi menos direta, quase sem censura aos jornais. A quantidade e a intensidade de atentados paramilitares foi consideravelmente inferior ao identificado em outros estados brasileiros, assim como a prática de tortura nas prisões, sem assassinatos como o do jornalista Vladimir Herzog pela polícia paulista, embora a articulação política e o levante militar do golpe tenha se dado em Minas Gerais por intermédio do general Olímpio Mourão Filho. Aqui a ação dos censores deu-se de maneira indireta, predominantemente com a propagação dos novos ideais através da grande mídia, das igrejas, do empresariado, de  associações de classe, de escolas, da cooptação de lideranças sindicais e dos governos locais, em alguma medida reproduzindo o ditado de que “mineiro não briga, articula”. 


Do mesmo modo, DF não se opunha frontalmente ao regime militar, criticando de maneira ácida ou direta como um jornal militante. Ao invés de denunciar a censura, defendia a liberdade de expressão, utilizava de vários recursos como a alusão a situações de outros países, a crítica a ditadores como Pinochet, Franco e Duvalier, além da publicação de notas de organismos internacionais defendendo a anistia no Brasil e liberdade para presos políticos, como a manifestação de exilados brasileiros em Estocolmo. Não há registros da presença contínua de censor em redações de jornais mineiros no período e assim DF era um dos únicos atuar forçando e ampliando os limites da liberdade de expressão no estado. Em  quase todas as entrevistas publicadas, mesmo as que tratavam de assuntos gerais, surgiam questões sobre o papel da grande mídia e da censura. E naqueles tempos a censura em Belo Horizonte foi se alastrando por todas as esferas sociais.

Após 3 anos de críticas intensas à política vigente, ao posicionamento da igreja católica, à violação dos direitos das mulheres, e até mesmo à grandes anunciantes dos jornais, como a Cemig,  mais precisamente em 02 de Setembro, o jornal foi alvo de um atentado terrorista, sendo a casa arrombada e alguns objetos roubados. Uma bomba foi instalada no espaço, mas a explosão não aconteceu.  Em função de dificuldades financeiras, somadas ao atentado, que pôde ser visto como a gota d’água,  a última edição saiu com atraso.

Nessa edição o DF promete que “em que pese a série de dificuldades que temos enfrentado, intimidações como esta não nos afastará da verdade dos fatos e continuaremos firmes no propósito de permanecermos na luta ao lado da oprimida maioria do povo brasileiro”. Mesmo com tal afirmativa, a edição parecia anunciar que seria a última. Apresentando apenas 16 páginas e repleta de santinhos de com propagandas políticas, a edição foi constituída basicamente de entrevistas com candidatos e com a publicação dos respectivos santinhos. Na contracapa encontrava-se um anúcio com a inscrição “Leia De Fato”, remetendo a um epitáfio. Foi a última página de um dos mais significativos periódicos a enfrentar a ditadura militar nos anos 70 em Belo Horizonte.

Referência Bibliográfica:
RABELO, Ernane. De Fato: o jornal que enfrentou a censura em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG. 2006.


2 comentários:

  1. caros alunos, mudem a introdução do blog para: Este blog é um trabalho acadêmico da disciplina História do Jornalismo do curso de Jornalismo do Unibh, com o intuito de publicar os fatos mais marcantes veiculados no Jornal Estado de Minas na década de 70.

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